Do videogame ao carro autônomo: como a Engenharia de Computação cria tecnologias que você já usa

Descubra como o Playstation 3, o processador Intel 8086 e o IBM PC se conectam à Engenharia de Computação e o que essa história ensina sobre inovação.
Rodrigo Nicola
Rodrigo Nicola

Em 2007, Gabe Newell, fundador da Valve, empresa responsável pelas lendárias séries Half Life e Portal e que hoje domina o mercado de venda de jogos online com a plataforma Steam, chamou o Playstation 3 de “uma perda de tempo para todos os envolvidos” — e isso tem tudo a ver com Engenharia de Computação. Quer entender melhor? Então continue lendo.

A origem: o IBM PC e o nascimento da computação pessoal

Vamos voltar um pouco no tempo. O ano é 1981 e a Sony está completamente focada no revolucionário Walkman — e não há nem sequer um embrião do que viria a ser a divisão Playstation. Mas o foco da nossa viagem ao passado não é a japonesa Sony e sim as americanas IBM e Intel.

The IBM PC. Crédito: site IBM
Capa da Time “Machine of the Year”, 1982

Essas duas empresas estavam trabalhando juntas em um lançamento que iria mudar para sempre a história da computação: o Modelo 5150, popularmente conhecido como IBM Personal Computer.

Hoje, o nome da máquina lançada pela IBM virou praticamente um sinônimo para quase todo tipo de computador com o qual interagimos.

Se isso não é evidência suficiente da importância desse lançamento, então aqui vai mais uma: em 1982, a revista Timededicou, pela primeira vez na história, o seu prêmio de “Pessoa do Ano” a um objeto inanimado. Sim, a pessoa do ano de 1982 foi o computador pessoal.

O elo entre Intel, Gabe Newell, o Playstation 3 e a Engenharia de Computação

A resposta está na Unidade Central de Processamento, ou CPU para os íntimos. O cérebro do modelo 5150 era o Intel 8088, uma variante do processador 8086.

Não conhece o 8086? Tudo bem, nem todo mundo é perfeito. Trata-se do processador mais influente da história.

Por que o 8086 foi tão importante

O 8086 foi um dos primeiros processadores de 16 bits e introduziu conceitos muito importantes para a computação, como a memória segmentada, que aumentava a quantidade de memória endereçável pela CPU.

Outras inovações do 8086 incluíam a capacidade de integrá-lo a coprocessadores, o que permitia dividir a carga de processamento — esses coprocessadores são os ancestrais da hoje famosa GPU.

Além disso, o 8086 tinha um conjunto de instruções amigável para programadores e técnicas de pipelining que otimizavam a execução de instruções. Essas inovações tornaram o 8086 extremamente influente, e o uso de sua variante 8088 no IBM PC coroou essa influência.

A influência que perdura

Você já notou algum arquivo executável com um sufixo como x86_64.exe? Isso indica que o executável foi compilado para uma arquitetura x86 de 64 bits, a mais comum entre computadores pessoais e servidores.

Ou seja, o 8086 definiu o padrão de arquitetura de processadores que ainda domina boa parte do mercado de computação.

O caso Playstation 3: quando inovação técnica encontra barreiras práticas

Playstation 3

Aqui entra o Playstation 3. Na época de seu lançamento, ainda era comum que as fabricantes de consoles participassem da criação de processadores feitos especialmente para seus produtos.

A Nintendo e a Microsoft escolheram uma arquitetura relativamente comum chamada PowerPC (usada no Wii e no Xbox 360). Já a Sony fez uma aposta de alto risco e desenvolveu o Cell, um processador de arquitetura única — até hoje motivo de debate.

O processador Cell: inovação e complexidade

A principal ideia por trás do Cell era a divisão entre um núcleo principal de uso geral (Power Processor Unit) e vários núcleos secundários para processamento massivamente paralelo (Synergistic Processor Units).

Essa arquitetura era uma inovação à frente do seu tempo e perfeitamente alinhada com os desafios gráficos dos videogames.

Arquitetura do processador Cell

Por outro lado, programar o Cell “envolvia um esforço desumano”, segundo desenvolvedores da época. Além de Gabe Newell, outras empresas como Ubisoft, Naughty Dog, Bethesda e Epic Games declararam sua insatisfação com a dificuldade de trabalhar com o hardware da Sony.

O impacto no mercado e a lição aprendida

A dor dos desenvolvedores se traduziu em problemas de negócios: o PS3 tinha dificuldades de performance e rodava jogos piores que o concorrente Xbox 360, mesmo com hardware superior.

Essa foi uma das razões para a Sony não repetir o sucesso do PS2. A lição: inovação tecnológica sem considerar o valor agregado e a experiência do usuário pode gerar resultados decepcionantes.

Na geração seguinte, tanto o Xbox One quanto o Playstation 4 migraram para a arquitetura x86, simplificando o desenvolvimento — um padrão que se mantém até hoje com o Xbox Series X/S e o Playstation 5.

Onde entra a Engenharia de Computação nisso tudo?

engenheiro de computação é o profissional que entende tanto de hardware quanto de software. Ele é capaz de analisar o impacto de decisões arquiteturais, como as da Sony, e integrar sistemas complexos usando computação em nuvem e inteligência artificial.

No caso do PS3, os engenheiros mostraram competência técnica ao tentar resolver um desafio real — mas ignoraram a experiência do desenvolvedor, gerando impacto de negócio e falhas de liderança.

O papel da formação no Inteli

No Inteli, o curso de Engenharia de Computação vai além da formação técnica. Ele prepara alunos para considerar também as implicações de design e negócios de suas soluções.

O currículo inclui formação em liderança, garantindo que os futuros profissionais criem soluções com valor real para a sociedade — tudo em um modelo 100% baseado em projetos reais desenvolvidos com parceiros do mercado.

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