
Há 35 anos, eu iniciei a minha jornada no fantástico mundo da computação. Decidida a trabalhar desde cedo, cursei o técnico de Eletrônica do CEFET/RJ, e em seguida Engenharia Eletrônica, na UFRJ – em uma turma de 50 homens e apenas duas mulheres. Eu nunca me intimidei, mesmo quando alguns professores diziam que ali não era lugar de menina. Continuei a estudar muito e a buscar o meu espaço.
Enquanto os meus filhos cresciam, fui realizando sonhos, como o pós-doutorado na Universidade Pierre et Marie Curie Paris VI, na França, e na Queensland University of Technology, na Austrália. Continuei rodando o mundo organizando workshops e conferências até o dia em que dois amigos, Ig e Seiji, apresentaram o projeto Inteli – uma faculdade de tecnologia com uma metodologia de ensino totalmente baseada em projetos. Foi amor à primeira vista.
Hoje estou aqui, à frente da área acadêmica. Imagina se eu tivesse acreditado em quem apontou o dedo dizendo que a área de Computação não era pra mim?
Mas eu ainda me incomodo com o fato de que ainda temos poucas meninas se aventurando na área. E se as carreiras no setor são as que oferecem melhores salários, flexibilidade e oferta de vagas, por que as mulheres ainda não tomaram conta dos bancos das universidades de tecnologia?
Levantamento do Igualdade STEM com dados do Censo da Educação Superior do Inep, mostra que entre 2010 e 2019 a participação feminina no total de alunos formados era de 29,5% em 2010 e passou para 33,7% em 2019, um aumento total de 4,2% no período ou, em média, 0,47% por ano. Caso esse ritmo se mantenha, o patamar mínimo de paridade de gênero em STEM (45%) seria atingido em 24 anos.
O estudo Girls’ career aspirations in STEM ajuda a entender quais podem ser os impulsionadores das aspirações das meninas quando elas estão fazendo escolhas sobre qual curso seguir na faculdade. Um dos achados é que os fatores contextuais, o histórico familiar e as crenças gerais da sociedade em relação às mulheres em STEM podem influenciar os interesses e as aspirações de carreira das meninas.
A falta de representação feminina em muitas áreas da tecnologia pode fazer com que as mulheres se sintam desencorajadas a entrar no campo.
Aqui no Inteli, nosso modelo de ensino pautado em projetos prevê oportunidades iguais para que todos possam aprender, construir e agir em prol de um mundo de equidade. Apoiamos as entidades estudantis que buscam acolher as mulheres e colocar em pauta discussões como a equidade de gênero. Participamos ativamente de palestras em escolas para incentivar as meninas a participarem do nosso processo seletivo. E, claro, damos o exemplo como uma instituição com líderes femininas.
Eu acredito que precisamos ser proativas, dedicadas e nunca parar de estudar. É importante sempre se engajar na comunidade de tecnologia para criar redes de suporte e solidariedade com outras mulheres na área. Podemos apoiar umas às outras, compartilhar nossas experiências e conhecimentos e colaborar em projetos.
Acredito que as mulheres devem se sentir confiantes e continuar a luta por uma maior representação e inclusão na área. Juntas, podemos quebrar barreiras e criar um ambiente mais inclusivo e diverso na tecnologia.