
É ilusão imaginar que teremos grandes saltos na qualidade da educação apenas por conta da interação dos alunos com agentes de IA. Sem dúvida, a IA terá impactos importantes no acesso à educação, pois permitirá escalar determinados tipos de processos instrucionais a um custo sustentável.
Mas “acesso” e “qualidade” são coisas diferentes. O maior desafio continuará sendo assegurar o engajamento do aluno. Ora, por mais que a tecnologia avance, no final, o aluno para aprender, precisará parar, sentar e estudar.
Não importam quais canais de apreensão o aluno use, sejam táteis, visuais ou auditivos, o fluxo continuará sendo “entrada” > “processamento” > “saída”. Chamo aqui a atenção para a etapa “processamento”. É o momento em que o aluno constrói reflexões, digressões, narrativas e outros processos mentais capazes de persistir aquilo que aprendeu em sua memória permanente. É algo que a IA não poderá fazer no lugar do aluno, ele mesmo precisará passar por isso.
Metodologias ativas e o papel da pedagogia
As metodologias pedagógicas continuarão tendo importância fundamental, em especial as metodologias ativas, para gerar relevância naquilo que se pretende ensinar e no contexto específico do aluno, seja pessoal, seja socioeconômico.
Em outras palavras, eu não tenho dúvidas que os agentes de IA irão desempenhar um papel central no futuro da educação, mas os saltos mais significativos só virão para aqueles que souberem combiná-los com a velha e boa pedagogia.

Universidades como protagonistas do futuro
As instituições de ensino de ponta, aquelas que estão na vanguarda do conhecimento, têm uma oportunidade incrível para protagonizar as mudanças que serão tão necessárias. Em primeiro lugar, sendo elas próprias a abraçar novos modelos educacionais, baseados em casos, desafios, projetos ou problemas, e não mais em disciplinas.
Mas além disso, elas poderão criar linhas de pesquisa de alto impacto no uso da IA no ambiente educacional. Para isso, será necessário sair da postura de “observador”, ou seja, não se limitar a apenas testar o que funciona em termos de IA, a partir do que existe no mercado.
A nova postura deverá ser “ativa”, com elas próprias desenvolvendo agentes de IA ou, melhor ainda, ferramentas para facilitar o desenvolvimento de agentes de IA pelos membros de sua comunidade. Ainda que as grandes corporações venham a se empenhar nesse desenvolvimento, tais como a produtoras de LMS, as editoras e os grandes grupos educacionais, sempre haverá nichos, micronichos e nanonichos a serem preenchidos, sobretudo aqueles com baixo retorno comercial ou de interesse público.
Desenvolver metodologias e ferramentas para que os educadores possam criar seus próprios agentes de IA, mais do que tudo, é uma forma de democratizar o acesso a essa tecnologia, diluindo o efeito de vieses corporativos de um mercado muito concentrado. Uma grande oportunidade para as universidades e outras instituições de ensino assegurarem sua relevância nesse cenário pós-IA.